8 de janeiro de 2010

A Igreja Universal e o ‘destino manifesto’ tupiniquim



Há um conceito particular do protestantismo americano denominado 'destino manifesto', que serve hoje como mote para pretensões econômicas e políticas de determinados grupos religiosos que anseiam pelo poder, em especial daqueles que seguem os princípios da chamada teologia da prosperidade. Neste sentido trataremos neste artigo em que consiste o 'destino manifesto' e como se apresenta sua versão brasileira.
O chamado 'destino manifesto' surgiu nos Estados Unidos como resultado de sua formação protestante puritana, que desde os pilgrim fathers, que vieram a bordo do Mayflower, imaginaram a nação que iriam colonizar como um país livre, tolerante, isto é, um mundo novo, longe do despotismo e das guerras religiosas que assolavam a Europa no século XVII. Desde então se formou o que chamamos destino manifesto, ou seja, a América segundo se crê teria uma vocação e uma proteção especial dada por Deus, sua missão é ser um pais livre e democrático, cujas idéias deveriam ser levadas a toda humanidade, daí os famosos lemas ‘A nation under God’ e ‘In God we trust’. Esta crença forma uma espécie de religião civil, a qual explica o exacerbado patriotismo americano, fonte de sua convicção em levar a liberdade e a democracia a todo o mundo, como uma nação escolhida por Deus, o que remonta às idéias presentes no Antigo Testamento sobre a eleição de Israel como povo eleito. Exemplo disso podemos perceber nos discursos do presidente George W. Bush e, recentemente, no discurso de posse de Barak Obama.
A idéia que Deus tem um projeto para o Brasil não é recente entre os protestantes, ela desenvolveu-se desde a expansão do protestantismo pentecostal (entre as décadas de 60 a 90), trazida pelos batistas e pentecostais americanos, essa versão, mais que um projeto religioso, isto é, de conversão e salvação das almas, é um projeto econômico e político, pois tem por base os princípios oriundos de uma versão deturpada da predestinação calvinista, aliado ao interesse não apenas na representação, mas no poder político irrestrito. O novo livro do auto-intitulado bispo Edir Macedo, fundador da Igreja Universal do Reino de Deus, chama-se estrategicamente Plano de Poder, e se apresenta como uma chamada de atenção aos evangélicos brasileiros para realizar o plano ou projeto de nação que Deus reservou para o Brasil. Uma clara referência ao destino manifesto americano, mas agora numa versão tupiniquim adaptada. É sintomático que o livro do bispo tenha como referências básicas o filósofo Aristóteles, escritor de A Política, e, nada mais nada menos que, Nicolau Maquiavel, autor de O Príncipe, conhecido manual estratégico de conquista e manutenção do poder político, e Thomas Hobbes, autor de Leviatã, conhecido por sua compreensão mecanicista e autoritária da política, cujo soberano deve possuir plenos poderes. 
Este ‘plano de poder’ se daria numa maior consciência do papel dos ‘evangélicos’ na política e na economia, os quais seriam liderados pelo ‘novo Moisés’ rumo à libertação da escravidão do Egito, assumindo assim as rédeas e rumo do país. Quem são estes ‘evangélicos’ citados genericamente pelo bispo? Seriam todas as igrejas protestantes unificadas (luteranos, presbiterianos, batistas, pentecostais, etc.) sob uma mesma bandeira? Ou seria uma parcela de tendência neopentecostal encabeçada por alguma igreja especifica? Estas idéias parecem ser muito perigosas e intolerantes. É uma idéia perigosa, uma vez que descarta uma conquista fundamental da modernidade, ou seja, a de um Estado laico e democrático garantidor dos direitos de todos, independentemente de gênero, raça, crenças e convicções. O aspecto intolerante se revela na medida em que apenas os evangélicos teriam um papel importante na realização deste pano divino. Qual seria então o papel dos católicos, dos ortodoxos, espíritas e dos cultos afro-brasileiros nesse projeto de nação? Convém ainda notar ser muito estranho que este plano se apresente como se fosse uma revelação especial e particular dada ao autor ou autores do livro, para além do que dizem os textos da escritura sobre tais questões, os quais são usados de forma arbitraria e fundamentalista.
Diante disso devemos estar alertas para esta pretensão de criar um projeto político para o Brasil a partir de idéias religiosas extremamente duvidosas que não tem por base um principio democrático, mas apontam para um fundamentalismo religioso intolerante, capaz de se legitimar fazendo uso da Bíblia e dos meios de comunicação.

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