6 de dezembro de 2009

O Anarquismo individualista de Raul Seixas


É comum pensarmos o anarquismo como uma falta de organização, uma ausência de ordem, mas o verdadeiro anarquismo na verdade é uma forma sui generis de organização da sociedade através de uma livre expressão dos indivíduos, que encontram em si mesmos a responsabilidade sobre tudo que está a sua volta, sem a necessidade de delegar poder a um indivíduo, uma elite, ou mesmo uma instituição como o Estado, que seria responsável de ordenar e organizar a sociedade como um todo em vista do bem comum. Entre os maiores expoentes destas idéias destacamos o russo Mikhail Bakunin e o francês Pierre Joseph Proudhon, que escreveu o texto “O que é ser governado?”, do qual Raul se inspirou para escrever a música Plunct Plact Zum
A anarquia seria uma forma de poder distribuído, descentralizado, no sentido de um poder de todos exercido de forma conjunta, uma forma mais autentica de democracia. Raul Seixas é um dos pensadores mais conscientes desta dimensão fundamental do verdadeiro anarquismo, a ponto de expressar em suas músicas a compreensão desta nova forma de entender e viver a sociedade, o que ele chamava de ‘Sociedade Alternativa’, uma sociedade que tem seus fundamentos no individuo enquanto ser capaz de pensar e agir por si mesmo, e que desta forma não precisa de um controle externo, de regras impositivas ou mesma de uma instância que tolhe sua livre expressão e criatividade.
Na música Você ele diz: “Detesta o patrão no emprego / sem ver que o patrão sempre esteve em você/ e dorme com a esposa por quem já não sente amor / será que é medo? / Por que, você faz isso com você?
A Sociedade Alternativa é uma coletividade de indivíduos autônomos e co-responsáveis pelo bem estar de todos, ela permite-se fazer tudo aquilo que não impeça o outro de fazer o que ele quer. Aqui surge um tema presente no pensamento de Aleister Crowley, a conhecida ‘lei de Thelema’, “Faze o que tu queres” (Do what thou wilt), que não pode ser entendido como uma libertinagem irresponsável, mas como a forma mais verdadeira da liberdade, fazer o que se quer implica em permitir e reconhecer que o outro também tem o direito de fazer o que quer, ou seja, deve-se fazer aquilo que permite o outro fazer aquilo que ele também quer. É uma liberdade inclusiva, pois pressupõe a liberdade do outro e não a exclui, na medida em que reconhece o outro como sujeito de vontade.
Na música Novo Aeon se esclarece o que é a Sociedade Alternativa:
Sociedade Alternativa é Sociedade Novo Aeon / é um sapato em cada pé / direito de ser ateu ou de ter fé / ter prato entupido de comida que você mais gosta / ser carregado ou carregar gente nas costa / direito de ter riso ou ter prazer / e até direito de deixar Jesus sofrer!”
Essa concepção de liberdade individual está presente nas músicas Sociedade Alternativa e A Lei, na primeira fica claro a composição desta sociedade que permite tudo a todos, sem impedir que todos façam o que querem, ela está presente na consciência de cada um, como se diz no clipe da musica, “Você pode não estar na Sociedade Alternativa, mas a Sociedade Alternativa sempre esteve dentro de você”. Já na musica a Lei se diz que todo homem tem direito de pensar, de fazer, de criar, o que quiser..., mas “todo homem tem direito de matar todo aquele que quiser contrariar esses direitos...o amor é a lei, mas o amor sob vontade”.
O amor é a lei, mas esta lei não permite que o amor suplante a vontade, que é o principio supremo ao qual estão submetidos todos os direitos, já que estes estão fundados nela. A vontade é a máxima expressão da liberdade.