29 de março de 2010

A Páscoa e seu significado no Judaísmo e Cristianismo


Páscoa é uma palavra hebraica que significa ‘passagem’ (Pessach), ela se relaciona com a estação da primavera, ou seja, é uma festa que representa a passagem da morte à vida. A celebração da Páscoa remonta ao período do êxodo, quando os hebreus foram libertos da escravidão no Egito com a liderança de Mosheh (Ex 12). A Páscoa era celebrada uma vez por ano no período da primavera (mês de Nisã – Março/Abril) e para relacioná-la com a libertação da escravidão era morto um cordeiro imaculado (Ex 12,1-5), comido com ervas amargas, pão sem fermento (ázimo) e cajado na mão, tudo isso para indicar a pressa dos hebreus para sair do Egito e adorar a Jahveh (Ex 12, 1-11). Na noite da Páscoa os hebreus ficaram em suas casas, cujas portas estavam marcadas com o sangue do cordeiro sacrificado para com isso ficarem imunes a décima praga que se abateu contra o Egito (Ex 12, 29-51); nesta noite o anjo do Senhor passou pelas casas dos egípcios matando todos os primogênitos, permitindo assim que o povo fosse libertado (Ex 12, 29-51). Esta festa tinha uma conotação espiritual e política, ou seja, de libertação da opressão e da dominação.
Na época de Jesus (Yeshuah), séc. I de nossa era, os hebreus viviam sob o domínio do Império Romano, neste sentido a festa da Páscoa era uma celebração subversiva e reforçava a vontade do povo judeu de se libertar de todo domínio estrangeiro. Neste período a celebração principal acontecia no templo de Jerusalém, o lugar oficial de culto, porém havia a ceia pascal (o Seder), feita por cada família judia, como na época de Mosheh. Jesus sempre ia a Jerusalém para celebrar esta festa, mas após sua entrada triunfal em Jerusalém os chefes dos sacerdotes e os escribas resolveram encontrar um meio de capturá-lo. Na noite em que foi traído por Judas, seu discípulo, Jesus reuniu seus discípulos para a ceia pascal (Mt 26,17-30), mas esta ceia teria um outro significado para eles. Vale lembrar que assim como Joseph, filho de Jacob, foi vendido por um de seus irmãos, Judah, por trinta moedas (Gn 37, 26-27), o mesmo acontece com Jesus traído por Judas. A Páscoa Cristã representa não apenas a libertação política, mas a libertação do pecado e do poder da morte, não apenas uma ceia em memória do êxodo, mas um encontro em que os seguidores de Jesus fariam a memória de sua paixão (sofrimento) libertadora, esta seria não mais um gesto cerimonial, mas um verdadeiro encontro com o próprio Jesus nas espécies do pão e do vinho, doravante seu corpo e sangue (Mt 26,26-30).
Depois de entregue aos chefes dos sacerdotes para ser julgado, Jesus foi condenado à crucificação, tipo de morte considerada infame e reservada aos criminosos da pior espécie (segundo os judeus aqueles que eram crucificados eram malditos). De forma semelhante em Genesis (22,1-18), Abraão é conduzido ao monte Moriá, para sacrificar seu filho Isaac, prefigurando assim o sacrifício de Jesus no monte Calvário. Como profetizou Isaías: “Mas Ele foi ferido por causa das nossas transgressões e moído por causa das nossas iniqüidades, o castigo que nos traz a paz estava sobre ele; e pelas suas pisaduras fomos sarados” (Isaias 53,5). Também devemos lembrar o Salmo 22, que resume todos os acontecimentos da crucificação. Diante da cruz estavam Maria (Miriam), mãe de Jesus, sua irmã de mesmo nome, mãe de Tiago (Jacob) e Joset, João (Yohanan), o discípulo fiel, e Maria Madalena. Três dias após sua morte Jesus ressuscita dos mortos, no primeiro dia da semana, o domingo (do latim Dominica, o dia do Senhor, Dominus), por essa razão nós, cristãos, celebramos a Páscoa no domingo, diferentemente dos judeus (Mt 28,1-10). São dignas de nota suas aparições a Maria Madalena, aos Doze e no caminho de Emaús (Lc 24).
A Páscoa é, pois, a celebração do maior dom de Deus à humanidade, o dom da vida. Que nesta Páscoa aprendamos a ser defensores e promotores da vida, servindo a Deus, fonte da vida, e não ao dinheiro (Mt 6,24).

17 de março de 2010

José, o homem justo


Cearenses de todo o estado comemoram em 19 de março o dia de São José, o pai de Jesus, na esperança de chuva e boa colheita. A figura de São José muitas vezes passa despercebida por nós e sabemos muito pouco sobre sua vida. Quem foi São José? Por que a Bíblia fala tão pouco dele? Qual o seu papel no plano da salvação? Por que a Igreja o venera?
José, em hebraico Yosseph significa ‘Jahweh acrescenta’, é conhecido a partir dos evangelhos segundo Mateus e Lucas, homônimo de um dos filhos de Jacó-Israel (Gn 37-50), o mais famoso deles, aquele que decifrava sonhos (é interessante que o pai de Jesus é sempre avisado dos acontecimentos em sonhos) e que foi vendido pelos irmãos como escravo, mas que no final tornou-se chefe no Egito. José é filho de Jacó e descendente de Davi, nascido em Belém da Judéia, ele é apresentado nos evangelhos com duas características marcantes: como homem justo (Mt 1,19) e operário. José era um homem justo, a justiça para o povo de Israel significava a obediência à lei de Deus.
José foi um operário (em grego tekton), segundo alguns um carpinteiro, que viveu uma vida normal de qualquer judeu do século I, desposou uma jovem chamada Maria e tornou-se pai adotivo do maior homem de todos os tempos, Jesus de Nazaré, o filho de Deus (Mt 1,18), assim como Deus nos adotou como filhos (Ef 1,5). Tendo encontrado-a grávida, José poderia tê-la repudiado, tendo mesmo pensado em fazê-lo secretamente, com receio de colocá-la em perigo (Mt 1,19), mas avisado pelo anjo do nascimento miraculoso, aceitou o encargo e permaneceu com ela (Mt 1, 20-21). Segundo a tradição ortodoxa e alguns evangelhos apócrifos (Historia de José, o carpinteiro), José teria sido viúvo antes de desposar Maria, tendo alguns filhos, os chamados irmãos de Jesus, sendo homem de idade avançada, por essa razão não temos noticias de José após os acontecimentos do nascimento de Jesus. É interessante que pelos apócrifos sabemos que entre os pretendentes de Maria, colocados diante do templo para prova divina, apenas o cajado de José floresceu indicando quem deveria desposá-la, daí a imagem da chamada flor de São José nos quadros antigos.
O pai de Jesus fica muitas vezes a margem da figura de Maria e dos outros personagens presentes durante a vida de Jesus. Sua ultima referencia no Novo Testamento é o episodio em que Jesus fica no templo e seus pais não percebem, dando-se conta de que ele não estava na caravana retornam e o encontram no templo com os doutores, Maria diz a Jesus: “Filho por que fizeste assim conosco? Teu pai e eu, aflitos, estamos a tua procura” (Lc 2,48).  Esta é a ultima referencia a pessoa de José. Ele parece ser uma figura modesta e simples, do qual não se tem muito que falar, mas esse silêncio do evangelho revela muito mais do que imaginamos. O papa João Paulo II escreveu no ano de 1989, uma exortação apostólica, Redemptoris Custus (o protetor do redentor), tratando da importância de José no plano da salvação, destacando suas virtudes como homem justo, como marido, como pai e como trabalhador.
Esta é a figura de José, um homem simples, justo e trabalhador, modelo de marido e de pai, como muito dos sertanejos cearenses que esperam pela sua intercessão para que possamos ter um bom inverno, mas antes de tudo muita fartura de amor e graça nas nossas famílias.

8 de março de 2010

Sobre a mulher

As mulheres são tão importantes em nossa vida que nós saímos de dentro delas e passamos a vida inteira querendo voltar!

7 de março de 2010

Padre Cícero, político ou religioso?



Padre Cícero Romão Batista, uma figura controversa na historia política e religiosa de nosso país, revela uma faceta interessante de nosso povo, a capacidade de sincretizar elementos díspares que vão do místico ao político. O Padre Cícero reuniu em torno de si, por um lado, uma multidão de fieis e admiradores, que vêem nele um santo místico (que deu origem a uma forma de pastoral nova, uma pastoral sertaneja por influencia de Padre Ibiapina), por outro lado, encontramos também vários desafetos e opositores, que o vêem como oportunista e articulador político, pronto para usar sua influencia religiosa em proveito próprio. 
Para além de tantos clichês é necessário ver na figura do Padre Cícero uma pessoa que viveu na pele todos os conflitos e paradoxos presentes na vida dos grandes homens que sofreram os reveses da historia. Infelizmente muitos estudiosos fazem uma leitura ingênua da realidade na qual estava inserido nosso personagem, alguns pretendem reduzi-lo a um político no sentido tradicional e pejorativo do termo, outros como se ele fosse um santo perfeito, imune as tentações e fragilidades humanas, o que é uma imagem contrária de todos os grandes santos que se destacaram na historia da igreja, basta lembrar São Francisco e Santo Agostinho, ou seja, homens que se tornaram santos ao passarem por todos os conflitos possíveis em sua natureza humana.  Há, pois uma grande hipocrisia alimentada pelos meios de comunicação e pelas elites conservadoras, em ver a imagem dos santos como homens desligados das questões políticas (coisas ‘mundanas’ como dizem), como se pudéssemos separar religião e política. Esta separação é fictícia e só reforça a alienação e a falta de formação política das camadas mais populares. Pensar santos exclusivamente religiosos é tentar isolar o aspecto político, como se este fosse incompatível, assim como pensar o político como estritamente voltado para questões mundanas é uma forma de transformá-lo em um ser esquizofrênico cindido em si mesmo. O que pensar então de Jesus, um condenado político por motivações religiosas?
Não queremos isentar o homem Cícero de suas responsabilidades históricas na condução do rebanho a ele confiado pela igreja, mas mostrar que qualquer tentativa de separar a questão política da religiosa, como sugerem alguns pensadores, é simplesmente pernicioso tanto para a religião quanto para a política. Ainda mais em tempos como os nossos, em que se discursa constantemente sobre a separação entre a igreja e o Estado, mas na pratica tudo se faz para alcançar as graças e votos dos fieis através de imagens de santos em cidades do interior cearense. Os acontecimentos do inicio do século XX no Ceará mostram duas facetas importantes: a capacidade de se rebelar, mesmo na miséria, contra os poderes terrenos, quando estes estão em oposição aos seus interesses, bem como o poder aglutinador e revolucionário que a fé em um ideal ou mito religioso pode conduzir.
Essa separação entre político e religioso, oriunda das idéias iluministas do século XVIII e do cientificismo do século XIX, tem se mostrado falsa, pois a política ao se afastar da religião, tenta cada vez mais se sacralizar, criando liturgias para divinizar seus lideres, enquanto a religião despolitizada só serve para conduzir os fieis a alienação e a acomodação, esperando milagres do céu para resolver os problemas mundanos, os quais são decorrentes da irresponsabilidade das autoridades publicas.