29 de janeiro de 2010

O monge Joaquim da Fiori e a presença de Deus na História


Falar da presença de Deus na História é lembrar-se da Trindade, pois a revelação de Deus se dá na História através das três pessoas divinas, o Pai (Criador), o Filho (redentor) e Espírito Santo (santificador). Coube ao monge calabrês Joaquim da Fiori (século XII), enfatizar a importância das três pessoas da Trindade para compreender a História, a qual poderíamos chamar de uma ‘teologia trinitária da História’. A figura de Joaquim da Fiori é controversa seja pela sua personalidade bastante marcante seja pela sua obra, que de certo modo foi marginalizada pelos estudiosos.
Joaquim da Fiori nasceu na Calábria, Itália, no ano de 1135, tendo se dedicado à vida consagrada após ter feito uma viajem a Terra Santa, tornando-se depois abade em Corazzo.  Em 1192 fundou uma nova congregação em San Giovani di Fiori, a chamada ordem florense. Sempre esteve ligado a pessoas importantes de sua época como os Papas e Ricardo Coração de Leão, rei da Inglaterra. Sua obra é abundante e de difícil leitura, compreende uma série de tratados de exegese que tinham por objeto uma nova interpretação das Escrituras no que diz respeito à História, porém ele não se considerava profeta, apesar de sua obra apontar para uma Era do Espírito Santo, que segundo ele fora fruto de momentos de iluminação com que Deus o contemplara. Suas principais obras são: Concórdia entre Novo e Velho Testamento, Exposição sobre o Apocalipse e Saltério de dez cordas, as quais inauguram uma nova leitura das Escrituras rompendo com a tradição que seguia os passos de Santo A­gostinho na sua Cidade de Deus referência indiscutível em relação à História para os medievais. A visão agostiniana da História persistiu durante séculos, abarcando todo o período medieval, porém, é justamente com Joaquim da Fiori que esta será superada tendo por base não as épocas da História do povo hebreu, mas a leitura a partir da Trindade,o que chamamos de ‘teologia trinitária da História’ que será mais tarde uma grande influência no pensamento de Hegel como veremos mais adiante.
Para Joaquim da Fiori, cada era tem uma característica própria e uma dinâmica que terão sua consumação na última das três eras. A era do Pai é aquela em os homens vivem sob o jugo da lei, sendo servos, no temor do Deus Jahweh ciumento e irado, sem liberdade e condenados. Esta é por sua vez suplantada pela era do Filho, na qual estamos sob a Graça na servidão filial na fé, somos feitos filhos pelo filho que é Cristo. A estas sobrevirá a era do Espírito, da Graça ampliada, da liberdade, que segundo o autor iniciaria no ano 1260, segundo o cálculo das gerações antecedentes a Cristo (42) multiplicadas pelo número trinta (30), bem como na interpretação da fuga da mulher (Igreja) para o deserto passando 1260 dias. A idéia de uma História trinitária compre­ende três eras distintas que envolvem eventos específicos da revelação divina, seriam estas: a era do Pai, a era do Filho e a era do Espírito Santo, à primeira corresponde o período desde Adão até a encarnação de Deus, a segunda compreende todo o período de vigência do cristianismo até que viesse o Espíri­to Santo
Após algum tempo Joaquim tornara-se persona non grata junto aos papas. Em 1215, a sua doutrina da Trindade foi devidamente condenada por ser uma crítica às idéias de Pedro Lombardo, considerado autoridade teológica de então, e ao qual Joaquim acusa de propor uma concepção teológica de Deus que desembocaria numa quaternidade ao invés da Trindade. Após o escândalo do “Evangelho Eterno”, publicado por Gerardo de Borgo San Domino, que proclamava que a autoridade da Igreja católica se aproximava do fim e, que logo (1260) surgiria a Igreja espiritual, o papa Alexandre IV condenou em 1263, as idéias centrais do abade. A influência de Joaquim de Fiori será exercida no pensamento dos chamados ‘espirituais franciscanos’, os quais juntamente com algumas heresias medievais, tais como beguinos, begardos, pseudo-apóstolos e valdenses, farão uma critica radical da Igreja Romana, devido sua rigidez hierárquica, sua ligação com o poder secular e seu luxo, os quais serão os estopins para um movimento cada vez maior de renovação espiritual, que de certo modo culmina na Reforma protestante do século XV. Os espirituais veriam no joaquimismo um resgate das idéias franciscanas de uma igreja espiritual e pobre.
A importância e influência de Joaquim da Fiori se fazem sentir até nos pensadores alemães, tais como Les­sing, que desenvolve a idéia de uma revelação progressiva e contínua que terminaria em uma terceira época, e também em muitos movimentos espirituais e reformistas como os begardos e as beguinas, os Fraticelli, além do Idealismo alemão, em Schelling, Hegel, Comte e Marx.
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24 de janeiro de 2010

Sebastião, soldado e mártir da justiça



No dia 20 do mês de janeiro celebra-se na liturgia da igreja católica o dia de São Sebastião, padroeiro de diversas cidades no Brasil, inclusive da cidade do Rio de Janeiro, sendo invocado para proteger contra a peste, a fome e a guerra, sendo também padroeiro dos militares e bombeiros. O que a vida de um mártir como Sebastião tem a nos dizer hoje, cristãos do século XXI?
Sebastião (Sebastes, em grego, digno de louvor) nasceu em Narbona, França, viveu no século III de nossa era e foi um soldado romano da guarda pretoriana a serviço do imperador Diocleciano (por volta do ano 286). Tornou-se cristão e após ser denunciado foi flechado, tendo escapado da morte foi até o imperador para anunciar a verdade cristã sendo, por fim, trucidado.
A palavra martírio significa testemunho, testemunho de fé dado com a própria vida. O primeiro grande mártir do cristianismo foi o diácono Estevão, apedrejado aos pés de Saulo (Paulo), que depois se converteria de perseguidor em perseguido pela causa do evangelho. Como podemos constatar na leitura do livro do Apocalipse (escrito por volta do ano 95-100), os mártires que deram sua vida pelo evangelho chegaram aos milhares, mortos de formas diversas, mas sempre firmes na defesa daquilo que acreditavam.
Na época de Jesus e posteriormente era extremamente perigoso professar a fé e anunciar-se cristão, pois a perseguição que começou com os judeus continuou por parte do Império Romano, que punia tal ‘crime’ com requintes de crueldade, como por exemplo, apedrejamento, crucifixão, decapitação, além de muitos serem queimados na fogueira e até jogados na arena dos gladiadores para serem mortos pelas feras. Sebastião, soldado do Império romano, troca a espada da violência pela cruz da justiça. Subvertendo a lógica dos dominadores romanos que reduziam os povos ao seu jugo prometendo uma paz (pax romana) que era produzida a custa da injustiça, da violência e do medo. O soldado de Diocleciano torna-se agora soldado de Cristo. Sebastião torna-se para nós exemplo de soldado que coloca em primeiro lugar a justiça e a paz, que tem como função proteger e servir, respeitando a dignidade da pessoa humana, usando as armas da fé e do amor, em defesa dos mais fracos e excluídos. Ser cristão hoje é de certo cômodo e até fácil, se apenas professamos, mas não damos a vida por esta mesma fé.
Falar de martírio nos dias de hoje não é tão difícil, principalmente quando vivemos num mundo de violência, onde muitas pessoas são mortas por defender a justiça e a paz. Basta lembrar Martim Luther King, Ghandi, Dietrich Boenhoffer, Irmã Dorothy e tantos outros. Sebastião é, para nós, e para os soldados, policiais e bombeiros, de quem é padroeiro, e que muitas vezes são acusados de injustiças e violências, um exemplo que enfatiza que não é pela violência que podemos defender a justiça e a verdade, mas pelo reconhecimento da dignidade da pessoa humana, criada a imagem e semelhança de Deus.

A Missa e o Apocalipse




Nossa pretensão nesse breve artigo é apresentar a Missa como chave litúrgica de explicação do livro do Apocalipse, e o Apocalipse como narrativa simbólica do mistério da salvação de Jesus Cristo na história. 
Em primeiro lugar, devemos esclarecer que a missa é uma forma de culto que surgiu há aproximadamente dois mil anos, também é denominada celebração eucarística (em grego, ação de graças), suas origens remontam a ultima páscoa celebrada por Jesus com seus apóstolos, na qual fez referência a sua morte e instituiu a ceia ou páscoa cristã como memorial eterno de seu sacrifício, a partir de sua ressurreição no primeiro dia da semana e de sua repetição do gesto de partir o pão (ou fração do pão) os apóstolos passaram a celebrar tal memória em forma de culto que passou a ser denominado como Ágape (em grego, Amor). Já no século II, Justino, mártir de Roma, faz referência a esta celebração no chamado ‘dia do sol’ (dies solis), quando os cristãos se encontravam e juntos com o presidente da celebração ouviam as memórias dos apóstolos (evangelhos, cartas) e após uma exortação (homilia ou conversa) e ação de graças (eukaristia) partilhavam do mesmo pão. Neste relato temos toda a estrutura da missa, ou seja, a liturgia da palavra, a homilia, o ofertório, a oração eucarística, a comunhão e, ao fim da celebração o presidente exclamava “ite missa est” no sentido de envio para a missão.
Em relação ao Apocalipse, devemos dizer que, o termo ‘apocalipsis’ em grego significa revelação, e não catástrofe como se pensa, nesse sentido o que está escrito no livro de João (o presbítero), diz respeito uma epifania divina, na qual se revelam uma serie de elementos simbólicos relacionados a toda historia da salvação (desde o êxodo até a ressurreição de Cristo, passando pela perseguição aos cristãos do século I). Primeiramente, João tem sua visão no exílio da ilha de Patmos, na perseguição do imperador Domiciano (ano 95), tal visão acontece no ‘dia do senhor’ (Apocalipse 1, 10) nome dado ao domingo (do latim dominus, senhor), dia da ressurreição, no qual acontece a celebração eucarística (Atos 20,7), isto é, o dia em que Jesus se revela ao partir o pão (Emaús). Em toda a narrativa da visão de João encontramos a relação com a estrutura e os elementos de uma celebração litúrgica dominical, ou seja, o altar (Apo cap.8,3-4), o momento penitencial (caps 2 e 3), leitura da escritura (cap. 2-3; 5; 8,2-11), o glória (cap.15,3-4), a hóstia eucarística (cap.2,17), o ‘Cordeiro de Deus’  (cap.5,6), o ‘corações ao alto!’(cap. 11,12) o ‘Santo, Santo, Santo’ (cap. 4,8), o Banquete das Núpcias do Cordeiro (cap. 19,9-17). Estes elementos litúrgicos são símbolos da presença (parousia) de Cristo que caminha conosco na estrada de Emaús, nos explicando a Palavra e se revelando na partilha do pão eucarístico (Lucas 24,13-35).
Em suma, a revelação (apocalipsis) de Jesus Cristo se dá em um domingo (kyriake hemera), numa celebração litúrgica (eukaristia), onde o cordeiro de Deus se faz pão, para alimentar aqueles que testemunham (martireo) com sua própria vida o projeto de Deus e seu Reino, diante dos impérios opressores a serviço do mal e da morte. A Missa e o Apocalipse explicam-se, pois, mutuamente.

A sabedoria divina de Jacob Boehme




Jacob Boehme nasceu de uma família humilde em Alt-Seidenberg (Alemanha), em 1575, tendo peregrinado a procura de trabalho manual até se estabelecer em Goerlitz, como sapateiro, em 1594, e aí viveu até sua morte, em 1624. Boehme é conhecido como um dos mais profundos místicos alemães, desde Mestre Eckhart, Tauler e Suso. Suas visões tornaram-se livros extremamente complexos que revelavam mistérios insondáveis tanto para o homem comum, quanto para os estudiosos. Sua obra tornou-se leitura obrigatória de vários filósofos alemães do Idealismo Alemão, como Fichte, Schelling, Hegel, além de Novalis, Schopenhauer, entre outros. Sua obra foi considerada perigosa pelas autoridades religiosas luteranas, mas mesmo a hostilidade da ortodoxia luterana não tirou a paz da alma certa de sua missão.
Boehme teve uma revelação em 1600 a qual não divulgou, até que em 1610 passou a escrever sua primeira obra Aurora nascente (Morgenröte im Aufgang, 1612), a qual descreve toda sua compreensão da essência divina, da criação, a queda do homem, a redenção em Cristo, além dos elementos que compõem a realidade. Além de Aurora, suas principais obras são: Os três princípios da essência divina (1619) e Misterium Magnum (1623). Entre as fontes para a compreensão do pensamento de Boehme está a Alquimia, a Astrologia, a Teosofia e a Cabala, e entre os autores que o influenciaram destacamos a figura de Paracelso (1493-1541). O pensamento de Paracelso exerceu influência no pensamento de Boehme principalmente no que diz respeito à linguagem usada, profundamente hermética, onde se procura falar do Mistério que subjaz à natureza e que só é explicitado nas ciências citadas acima, além da Teologia e da Filosofia, enquanto estas ciências desvendam os arcanos da natureza.
O sapateiro de Gorlitz entende tanto a religião, como a mística, de forma mais profunda e ampla, ou seja, como onto1ogia (teoria do ser), a qual está intimamente relacionada com a razão. Deus é, para ele, processo, não um ser estático e transcendente ao mundo, mas um ser que se revela na história e na natureza. O Deus do sapateiro de Gorlitz é um ser pessoal que tem em si três princípios, o primeiro, o principio tenebroso, origem do inferno, o segundo, o celestial, o paraíso, e o terceiro, o material, origem da natureza. Em Boehme, o mal é visto como um princípio interior da ação divina, que ele denomina a ‘cólera de Deus’, vale ressaltar que a figura de Lúcifer é apresentada por ele como o primogênito de Deus, o mais belo anjo da corte celestial, mas que devido sua prepotência e orgulho rebelou-se contra Deus e foi substituído pelo Verbo, Jesus Cristo. O pensamento de Boehme é profundamente místico e simbólico e, ao mesmo tempo é paradoxalmente marcado por simplicidade e complexidade, simplicidade em relação às formas de expressão que se ligam aos elementos naturais, complexidade na medida em que as formas aparentemente simples escondem uma simbologia muitas vezes difícil de alcançar. Como afirma o próprio Boehme: “Sobre isso, por causa de minha imbecilidade, de meus poucos estudos e da incapacidade de minha língua, sou muito insuficiente, sou menos que nada; mas não sou tão nulo em meus conhecimentos. Só não posso expô-los com linguagem elegante e rebuscada, mas me contento com meus dons e sou um filósofo para os simples.” (Aurora, p.281). Essa linguagem e filosofia para os simples resultam de uma experiência mística, que se expressa em formas lingüísticas que ele denomina de “língua da Natureza” (Aurora, p.119), uma espécie de língua arquetípica, anterior a todas as outras, que se expressa como as sete qualidades ou espíritos-fonte: adstringente, doce, amarga, calor, amor, som e a corporalidade, as quais se manifestam nas três gerações, tenebrosa, celestial e material.
Segundo Boehme, Deus é um ser dinâmico que está presente em toda a sua criação como um todo que dá sen­tido às partes, ele é o fundamento escondido do real, ele é o fundamento da Natureza e das criaturas, que em tudo refletem sua soberania e magnificência. Para ele, Deus é o Uno eterno, em si mesmo, mas sob a forma de uma Trindade, a qual se revela e se manifesta na criação através de sua Palavra eterna, o Verbo, da qual derivam todos os seres. 


22 de janeiro de 2010

Histórias de Maracangalha: A parada do orgulho político gay em Maracangalha

Num belo domingo juntaram-se todos os gays e lésbicas de Maracangalha para arquitetar sua estratégia de implantar a “homocracia, ou governo gay neste Reino. Entre os presentes estavam todos os politiqueiros de Maracangalha, alguns pensando como poderiam se tornar gays e participar da “homocracia” sem que a população, que é pobre, tola e burra soubesse.
Firmoleza, como sempre, ficou em cima do muro e não sabia como se posicionar para não ser confundido com algum gay de Maracangalha, também o duque Ribabão com sua fantasia de baiana tresloucada estava presente, Rouberto Pescoço se sentiu à vontade travestido de “libélula federal” e “prefresca”, ainda estavam presentes Ariana do P-Gay, e outros politiqueiros, entre eles podemos citar Gaybriel, um dos mais poderosos de todos os “ex-condes” do Reino, que juntos com toda a parada perfaziam um total de 15 mil borboletas na Primavera, livres, leves e soltas. O único que não estava presente era Barrônidas Alá-ambique, um mussu-humano que combatia ferinamente a “homocracia” [dizia ele: “O mundo não é gay”], muitos acham que ele o fazia por estar se sentido ainda “en-cu-bado”.
Além das plumas e paetês havia vários carros alegóricos cada um repleto de politiqueiros e puxa-sacos mores, escrotófilos e outras celebridades maracangalhenses.
Infelizmente no meio da parada um carro alegórico quebrou, era o carro de CIDA, a terrível, ela se sentiu humilhada, já que estava pronta para assumir o posto de imperatriz do Siriará e de Maracangalha, o que causou indignação de Rouberto Pescoço, que do alto do seu trono no palácio mais fedorento do Reino, o palácio do Pequizeiro [ou seria do Jenipa...?], bradou em alta voz:
- Quem se atreve a rivalizar meu Reino? Quem é mais poderosa... quer dizer... poderoso que eu?
Rouberto queria impor um novo regime de governo em Maracangalha, a “Democratura”, em homenagem a Odorico Paraguaçu, seria um dês-governo misto de Democracia e Ditadura, em que os politiqueiros escolhem aqueles que os escolherão.
Enquanto isso em Parisjuçara, as coisas estavam como sempre, o marasmo e a preguiça dominavam este povo acomodado e pacifico. Isso era um prato cheio para Castelus de Areia, também conhecido como Castelus de Cartas, que segundo dizia, era parisjuçarense desde que seu pai engravidou-se dele em seus testículos, essa história causou assombro em todos os parisjuçarenses, povo muito moralista e assexuado.
Depois de consertar seu carro alegórico CIDA, a terrível, resolveu juntar todos os politiqueiros e escrotófilos maracangalhenses, já que uma boa parte da população era “en-cu-bada”, e assim estabelecer a sua nova forma de poder, a “homocracia”, mudando inclusive a bandeira de Maracangalha que seria então um arco-íris, com os dizeres: “DÊ-CIDA para o Siriará”.  Foi muito fácil para CIDA assumir seu domínio, o que causou a indignação de LU-LU, um outro candidato a imperador, um andrógino com uma cabeça de Polvo e outra de Lula. LU-LU aliou-se a todos que podia para combater CIDA, entre eles Des-Morona, uma terrível bichona violenta que usava um 38 e uma 44 para se masturbar, mas infelizmente CIDA já tinha dominado boa parte dos politiqueiros maracangalhenses, todos “en-cu-bados” assumidos.
No final da parada do orgulho político gay de Maracangalha veio o carro alegórico mais idolatrado, “a rabada”. “A rabada” era composta de todas as popozudas e eguinhas pocotós da região, entre elas a poderosa Mascareth, um ser heterófobo e profundamente vazio, que desejava o fim da Democratura maracangalhense, Mascareth era aliada de Julius Kaifás, o mega arqui-inimigo de Rouberto Pescoço.

18 de janeiro de 2010

Farias Brito e a Filosofia no Ceará



A filosofia deitou no Ceará raízes profundas, a Terra do Sol teve um filósofo que pode ser considerado o mais importante, primeiro e mais original dos filósofos brasileiros, Farias Brito.
           Raimundo de Farias Brito (1862 - 1917) nasceu em São Benedito, fez seus primeiros estudos em Sobral, mas com a seca teve de mudar-se com a família para Fortaleza, onde completou o curso secundário, além de dar aulas particulares; foi depois ao Recife onde fez o curso de jurídico na famosa Escola do Recife, onde ensinava Tobias Barreto. Fez parte de algumas agremiações literárias importantes do final do século XIX no Ceará, como O Clube Francês, além publicar diversos artigos e poemas em jornais cearenses como A Quinzena. Após isso regressou ao Ceará onde atuou como professor em Aquiraz e Viçosa.
           Publicou o livro A Finalidade do Mundo (1895) em três volumes, que é dividido em três partes, a primeira é “a filosofia como atividade permanente do espírito”, a segunda “os dois grandes métodos da filosofia moderna” e a terceira “teoria da finalidade”, depois foi ao Rio e depois ao Pará, atuando como advogado, promotor e professor da Faculdade de Direito de Belém. Em 1909 vai definitivamente para o Rio de Janeiro. Ali faz concurso para professor de Lógica, tirando o primeiro lugar, mas foi preterido por Euclides da Cunha, autor de Os Sertões, tomando posse após a morte deste, na mesma cadeira no Colégio Pedro II. Farias Brito publicou ainda A verdade como regras das ações (1905), A Base Física do Espírito (1912) e O Mundo Interior (1914), além destas restam ainda um volume com seus Inéditos e Dispersos. Faleceu em 1917.          
           Farias Brito teve como destino elevar a especulação filosófica no Brasil a um nível ainda não galgado: foi o primeiro filósofo brasileiro a travar diálogo com os modernos sistemas filosóficos europeus e ousar uma interpretação própria da realidade contra as opiniões já reconhecidas. Criticado acidamente por uns e elogiado por outros, nosso filósofo fez com que a filosofia não se enclausurasse na academia e ao mesmo tempo não se limitasse apenas ao comentário do que se escrevia na Europa, contribuindo, mesmo que modestamente, para um filosofar autêntico, o que não foi empreendido por nenhum de seus críticos.

Filosofia domesticada?


Atualmente comemora-se o retorno e a obrigatoriedade da Filosofia e da Sociologia ao Ensino Médio nas escolas públicas e privadas, o que já era prenunciado pela Lei de Diretrizes e Bases da educação, de 1996. Entretanto fica no ar uma pergunta: será que a Filosofia, nos moldes em que está sendo transmitida aos jovens, pode trazer algo de diferente para a educação? Não estaria a Filosofia seguindo padrões acadêmicos conservadores que em nada despertam um pensamento verdadeiramente crítico e criativo? Até que ponto esta volta da Filosofia não satisfaz a uma elite que agora dispõe de uma filosofia domesticada e inofensiva?
Para responder estas perguntas seria interessante voltarmos às origens da atividade filosófica, e entender como a Filosofia hoje está totalmente cativa de padrões de produtividade e reprodução, que se coadunam com os moldes de nossa sociedade de consumo. A Filosofia hoje parece não conseguir mais despertar as mentes no sentido de um pensar diferente e inovador. Os filósofos de hoje não parecem ter o impacto que deveriam ter na sociedade, como tiveram Sócrates, Diógenes (o cínico), Giordano Bruno, Espinoza, Voltaire, Schopenhauer, Nietzsche, Sartre, entre outros. Tudo leva a crer que, a Filosofia tem sido domesticada para se tornar inócua e inofensiva, talvez por essa razão ela tenha sido tão bem aceita, inclusive com direito as benesses do Estado. Aconteceu com ela o que acontecia com os chamados Castrati, aqueles cantores de ópera que para cantarem com uma voz mais doce e bela eram castrados.
Como sabemos, a Filosofia em suas origens não nasceu nas escolas e universidades, mas do embate diário entre filósofos e sofistas, os primeiros em busca da verdade, os últimos que com suas palestras vendiam um tipo de saber útil para alcançar cargos políticos na Pólis grega, o que não é muito diferente do que ocorre atualmente. Os primeiros filósofos eram em geral pessoas independentes e viajantes que, por conta própria, buscavam encontrar as respostas para as grandes perguntas do gênero humano. A Filosofia não gozava de apoio do Estado, sendo uma atitude individual sem qualquer compromisso com doutrinas políticas predeterminadas, como acontece nos dias de hoje, com alguns filósofos pagos pelo Estado. Podemos citar alguns exemplos evidentes desta independência da Filosofia face aos planos educacionais do Estado.
Em primeiro lugar, podemos citar o caso do filósofo Sócrates (séc.V a.C.), morto pelo estado ateniense por ‘corromper a juventude’ e não seguir a religião pública, apesar do filósofo se entregar de bom grado a sua execução por não querer romper com as leis da Pólis. De forma ainda mais radical está a conduta de Diógenes, o cínico (séc.IV a.C.), o qual despreza e até zomba das convenções sociais e políticas em nome de uma vida livre e de acordo com a razão. É paradigmático encontro de Diógenes com Alexandre Magno, que fica encabulado por parecer desprezível diante do ‘filósofo do barril’. O que não dizer então de Schopenhauer (séc.XIX), o qual, em seu ensaio Sobre a Filosofia Universitária (na obra Parerga e Paralipomena), faz uma crítica mordaz aos filósofos que fazem da Filosofia seu ganha-pão à custa do patrocínio do Estado? Ele chega mesmo a denominar filósofos do porte de Fichte, Schelling e Hegel, de sofistas! Neste mesmo clima, em seu texto Sobre Livros e Leitura, diz ele em relação aos eruditos (e por que não dizer também aos filósofos) que estes “ficaram estúpidos de tanto ler”! Do mesmo modo, o filósofo alemão Nietzsche (1844-1900), em seu ensaio Schopenhauer como educador, critica o padrão de ensino da Filosofia nas universidades de então, onde os jovens eram levados a decorar um sem número de sistemas filosóficos, simplesmente para parecer que sabiam realmente filosofar (!).
Atualmente vemos filósofos abdicarem de suas cátedras universitárias por se sentirem castrados em sua atividade de pensar livremente, pois os padrões impostos pelas instituições de ensino não passam de um incentivo a produzir sem objetivo e reproduzir o que já foi pensado, quando não apenas fazer glosas e comentários a tudo que já foi produzido até hoje. Nas escolas públicas vemos salas superlotadas de alunos que parecem não ter nenhum objetivo de estudar, escolas estas sem infra-estrutura e aparato tecnológico suficiente para a demanda de alunos, com professores desmotivados, mal-preparados, sem auto-estima e sem perspectivas. Alguns professores têm entendido equivocadamente sua tarefa como mera doutrinação esquerdista (pra não dizer dogmática) sem criticidade e incapaz de levar os educandos a pensarem por si mesmos, quando não passam para o outro extremo, ao utilizarem apenas o exercício da cópia como substituição da aula para desta forma fugir ao embate com os alunos. Neste sentido, a volta da Filosofia reveste-se de muita esperança, mas ao mesmo tempo de frustração, apesar de existirem projetos bons que tentam reverter este quadro desanimador. 
 Mesmo nesse clima de crise podemos perceber focos de resistência, na medida em que alguns pensadores procuram resgatar a verdadeira vocação da Filosofia, e não aceitam as condições impostas por um sistema educacional que muitas vezes aliena mais do que educa, fazendo com que a acomodação se torne regra geral. Resta então aos profissionais da Filosofia entender que sua tarefa não pode ficar refém dos padrões impostos, mas deve ser uma resistência ativa e militante, capaz de gerar inquietação e promover um pensar crítico e criativo. Não podemos confundir a educação com o mero ensino (o qual se reduz a escola), enquanto este prepara os estudantes apenas para se acomodar ao mundo, aquela prepara pessoas capazes de transformá-lo.


8 de janeiro de 2010

Rousseau e os deputados



Hoje parece óbvio a necessidade de representantes no sistema político democrático em que vivemos, entre os quais se destacam os deputados, mas para alguns pensadores, destacamos aqui o filósofo suíço Jean Jacques Rousseau (séc.XVIII), a existência dos deputados, e por extensão de senadores, é o reflexo da falta de participação política e mesmo da inexistência de uma democracia verdadeira.
Rousseau é um dos mais importantes filósofos políticos da Idade Moderna, em especial no que diz respeito a sua concepção sobre a origem da sociedade, sobre a democracia, a liberdade e a relação entre política e cristianismo, temas estudados em suas obras Do Contrato Social e Discurso sobre a origem da desigualdade entre os homens, suas idéias foram decisivas para pensadores posteriores como os filósofos alemães Kant, Hegel e Marx, embora o filósofo suíço também tenha trazido importante contribuição para a educação, em sua obra Emílio ou da Educação
Para Rousseau, a soberania pertence à vontade geral, a qual é inalienável e indestrutível, e só a partir desta é que se pode pensar um Governo e um corpo legislativo. O grande problema está na incumbência dos negócios públicos nas mãos de representantes, neste caso, os deputados, os quais não podem representar realmente os interesses do povo. A ruína do Estado está em os cidadãos se servirem de sua bolsa (dinheiro), ao invés de servir com sua própria pessoa no trato das questões públicas. Segundo ele, “num Estado livre os cidadãos fazem tudo com seus braços e nada com dinheiro”, ou seja, a liberdade de Estado está diretamente relacionada ao cuidado dos cidadãos em relação às coisas públicas, pois segundo ele, “quando alguém diz em relação aos negócios do Estado: Que me importa? – pode-se estar certo de que o Estado está perdido” (Do Contrato Social, Livro III, cap.XV).
De acordo com Rousseau, os deputados do povo não podem ser seus representantes, eles são seus comissários e se o povo não ratificar a lei, em absoluto ela será uma lei. “No momento em que um povo se dá representantes, não é mais livre; não mais existe”. É claro que tais idéias apresentadas por Rousseau parecem um tanto estranhas para nós, mas podemos pensar numa alternativa de democracia direta que exclua a necessidade de deputados e outros representantes, os quais como podemos ver no dia a dia, têm se dedicado a fazer leis apenas em proveito próprio e que, em geral, estão mais passíveis de corromper-se do que de dedicar-se ao bem público. As ultimas noticias sobre o Senado nos permitem estender esta reflexão a respeito dos deputados até o espaço onde deveriam ser representados os interesses dos Estados, mas que acabou se tornando espaço de barganhas de empregos e privilegios.
Só poderemos resolver o problema da corrupção quando os negócios de interesse público forem geridos, fiscalizados e realizados sob a tutela da própria população, a qual de forma consciente e organizada participará de todos os momentos de sua execução. Isto acontecerá quando o voto não for apenas o resultado de um jogo de interesses mesquinhos e individualistas, mas o primeiro passo em um compromisso comunitario.

A Igreja Universal e o ‘destino manifesto’ tupiniquim



Há um conceito particular do protestantismo americano denominado 'destino manifesto', que serve hoje como mote para pretensões econômicas e políticas de determinados grupos religiosos que anseiam pelo poder, em especial daqueles que seguem os princípios da chamada teologia da prosperidade. Neste sentido trataremos neste artigo em que consiste o 'destino manifesto' e como se apresenta sua versão brasileira.
O chamado 'destino manifesto' surgiu nos Estados Unidos como resultado de sua formação protestante puritana, que desde os pilgrim fathers, que vieram a bordo do Mayflower, imaginaram a nação que iriam colonizar como um país livre, tolerante, isto é, um mundo novo, longe do despotismo e das guerras religiosas que assolavam a Europa no século XVII. Desde então se formou o que chamamos destino manifesto, ou seja, a América segundo se crê teria uma vocação e uma proteção especial dada por Deus, sua missão é ser um pais livre e democrático, cujas idéias deveriam ser levadas a toda humanidade, daí os famosos lemas ‘A nation under God’ e ‘In God we trust’. Esta crença forma uma espécie de religião civil, a qual explica o exacerbado patriotismo americano, fonte de sua convicção em levar a liberdade e a democracia a todo o mundo, como uma nação escolhida por Deus, o que remonta às idéias presentes no Antigo Testamento sobre a eleição de Israel como povo eleito. Exemplo disso podemos perceber nos discursos do presidente George W. Bush e, recentemente, no discurso de posse de Barak Obama.
A idéia que Deus tem um projeto para o Brasil não é recente entre os protestantes, ela desenvolveu-se desde a expansão do protestantismo pentecostal (entre as décadas de 60 a 90), trazida pelos batistas e pentecostais americanos, essa versão, mais que um projeto religioso, isto é, de conversão e salvação das almas, é um projeto econômico e político, pois tem por base os princípios oriundos de uma versão deturpada da predestinação calvinista, aliado ao interesse não apenas na representação, mas no poder político irrestrito. O novo livro do auto-intitulado bispo Edir Macedo, fundador da Igreja Universal do Reino de Deus, chama-se estrategicamente Plano de Poder, e se apresenta como uma chamada de atenção aos evangélicos brasileiros para realizar o plano ou projeto de nação que Deus reservou para o Brasil. Uma clara referência ao destino manifesto americano, mas agora numa versão tupiniquim adaptada. É sintomático que o livro do bispo tenha como referências básicas o filósofo Aristóteles, escritor de A Política, e, nada mais nada menos que, Nicolau Maquiavel, autor de O Príncipe, conhecido manual estratégico de conquista e manutenção do poder político, e Thomas Hobbes, autor de Leviatã, conhecido por sua compreensão mecanicista e autoritária da política, cujo soberano deve possuir plenos poderes. 
Este ‘plano de poder’ se daria numa maior consciência do papel dos ‘evangélicos’ na política e na economia, os quais seriam liderados pelo ‘novo Moisés’ rumo à libertação da escravidão do Egito, assumindo assim as rédeas e rumo do país. Quem são estes ‘evangélicos’ citados genericamente pelo bispo? Seriam todas as igrejas protestantes unificadas (luteranos, presbiterianos, batistas, pentecostais, etc.) sob uma mesma bandeira? Ou seria uma parcela de tendência neopentecostal encabeçada por alguma igreja especifica? Estas idéias parecem ser muito perigosas e intolerantes. É uma idéia perigosa, uma vez que descarta uma conquista fundamental da modernidade, ou seja, a de um Estado laico e democrático garantidor dos direitos de todos, independentemente de gênero, raça, crenças e convicções. O aspecto intolerante se revela na medida em que apenas os evangélicos teriam um papel importante na realização deste pano divino. Qual seria então o papel dos católicos, dos ortodoxos, espíritas e dos cultos afro-brasileiros nesse projeto de nação? Convém ainda notar ser muito estranho que este plano se apresente como se fosse uma revelação especial e particular dada ao autor ou autores do livro, para além do que dizem os textos da escritura sobre tais questões, os quais são usados de forma arbitraria e fundamentalista.
Diante disso devemos estar alertas para esta pretensão de criar um projeto político para o Brasil a partir de idéias religiosas extremamente duvidosas que não tem por base um principio democrático, mas apontam para um fundamentalismo religioso intolerante, capaz de se legitimar fazendo uso da Bíblia e dos meios de comunicação.