15 de fevereiro de 2010

A polêmica Casa de Rodolfo Teófilo

Foto: Casa de Rodolfo Teófilo em Pajuçara

             Infelizmente nós, cearenses, somos propositalmente privados de nossa cultura e história por parte dos nossos representantes, com o único e exclusivo intuito de permanecermos acomodados e alienados ao som da mediocridade reinante nos meios de comunicação de massa. Exemplo concreto disso se passa no município industrial de Maracanaú, do qual seus gestores se orgulham ser uma das cidades mais ricas do Estado. Cidade rica sim, mas apenas do ponto de vista econômico, porém pobre do ponto de vista social e cultural. Vale lembrar que qualidade de vida não se reduz apenas a dinheiro no bolso.
Desde 2003, poetas e escritores de Maracanaú têm desenvolvido um evento em prol da restauração da casa onde viveu o polêmico escritor e farmacêutico cearense Rodolfo Teófilo (1853-1932). Este evento chegou a sua quinta edição em 2007, quando a prefeitura de Maracanaú assumiu o compromisso de restaurar e transformar a casa do escritor em um espaço cultural para a população do município e, em especial, de seu distrito Pajuçara. No V abraço a Casa de Rodolfo Teófilo, promovido pela SOPOEMA (Sociedade dos Poetas e escritores de Maracanaú) em Maio de 2007, foi assinado um convênio através da FUNCULT (Fundação Cultural de Maracanaú), o qual previa o desenvolvimento do espaço como centro cultural com oficinas, biblioteca, palestras sobre literatura, sarau de poesias, etc. Passados mais de 6 anos o tal projeto dormita nas gavetas da dita fundação e até então nada parece garantir que algo seja feito.
Em 2008, a SOCIARTE (Sociedade dos Amigos de Rodolfo Teófilo) tendo como meta resgatar a luta em prol do estabelecimento definitivo da Casa de Rodolfo Teófilo como um centro cultural, realizou um evento, mesmo com boicote de alguns ditos representantes da Maracanaú. Esta luta não é apenas para o beneficio dos habitantes de Maracanaú, os quais amargam a triste sina de terem os poucos monumentos históricos e culturais esquecidos, mas para todos os cearenses.
Estamos em 2013 e ainda aguardamos pela efetivação da Casa de Rodolfo Teófilo como centro cultural para todos os pajuçarenses, maracanauenses e cearenses, com atividades culturais (musica, teatro, poesia, etc.) semanais envolvendo os jovens da região. Esperamos que não aconteça que a última lembrança do escritor e farmacêutico, condecorado inclusive por D.Pedro II com a ordem da Rosa, corra o risco de se tornar apenas uma memória, algo do passado.

A Filosofia nos folhetos de Cordel

Foto: Klevisson Viana e Francisco José na VIII Bienal Internacional do Livro do Ceará

Refletiremos sobre a filosofia nos folhetos de cordel, para isso começaremos por uma frase que para mim serviria de inspiradora, a frase é: “A poesia é filosofia em versos, a filosofia é a poesia em prosa”.
Já que ao falar de literatura de cordel estamos falando em poesia, podemos perceber que na Filosofia há um pouco de cordel, pois na sua origem a Filosofia era expressa na forma de poesia, em versos. Desde tempos imemoriais a poesia tem sido a forma mais utilizada para se expressar, especialmente na carência de uma literatura escrita, enquanto ela é uma forma de mnemotécnica, ou seja, uma técnica de memorização eficaz, além é claro do caráter estético que nela se apresenta que lhe dava uma aura de divina.
Um exemplo deste caráter divino da poesia pode ser constatado na invocação das musas, rotina sempre presente na literatura de cordel, mas que remonta a Homero, na Ilíada e Odisséia, e Hesíodo, na Teogonia e em Os Trabalhos e os Dias. As primeiras grandes obras poéticas da tradição ocidental que tem sua origem na Grécia antiga. No Canto I da Ilíada lemos: “Canta ó musa, a ira de Aquiles filho de Peleu...”. Em relação à importância da expressão poética na antiguidade e sua relação com a Filosofia nos diz Aristóteles, em sua Poética: “Entretanto nada de comum existe entre Homero (poeta) e Empédocles (filósofo) salvo a presença do verso.” (Aristóteles, Arte Poética, I, 11). A partir deste texto, percebemos que o verso era a linguagem comum tanto da poesia quanto da filosofia, e, ao contrário do que diria Platão, o qual rejeita a poesia em sua Republica (vale ressaltar que o próprio Platão era poeta, o que nos leva a questionar sobre sua posição), Aristóteles exalta o caráter racional e universal da poesia, quando diz: “Por tal motivo a Poesia é mais filosófica e de caráter mais elevado que a História, porque a Poesia permanece no universal e a História no particular.” (Aristóteles, Poética, IX, 3).
Com isso vemos claramente que há algo que aproxima a racionalidade filosófica da poesia e vice-versa, é isto que faz com que o cordel, enquanto poética popular, carregue em si os germes da reflexão filosófica na sua busca de expressar o real em sua complexidade. Podemos dizer que os grandes poetas marcam com suas obras a genialidade do pensamento, entre eles destacam-se ainda mais aqueles que poeticamente filosofam. Diante disso tudo e sabendo que a poesia tem uma ligação com a filosofia e pode expressar idéias e reflexões filosóficas, podemos nos perguntar: Já que a filosofia agora se tornou obrigatória em todas as escolas do país, seria possível ensinar filosofia com cordéis? Uma vez dispondo de uma biblioteca de cordéis na escola poderia o professor de filosofia utilizar-se dos cordéis e levar os alunos à reflexão por meio deles?
Os folhetos de cordel trazem uma imensa gama de questões a serem elaboradas e desenvolvidas num espaço coletivo de reflexão, ou como diria o filósofo Matthew Lipman, numa comunidade de investigação, a qual permitiria aos educandos um espaço democrático de debate e investigação das implicações contidas nas narrativas estudadas. O cordel é uma ferramenta incrível para levar o educando ao conhecimento da nossa cultura, de nossas raízes, mas pode ser mais que isso, ele pode levar-nos a uma reflexão critica de nossas idéias e ideais, de nossos costumes, das concepções e ideologias presentes em nossa formação e do pensamento do homem simples que expressa em seus poemas as realidades mais complexas da condição humana. 
Por isso, consideramos que a Filosofia pode e deve ter no cordel, especialmente aqui no Ceará e em todo o Nordeste, mais um aliado em seu trabalho incansável de levar os homens ao conhecimento de si e a problematização das falsas verdades e certezas impostas pelo neoliberalismo, pela tradição e pelos meios de comunicação de massa. Com o Cordel aliado a Filosofia, estaremos ampliando a possibilidade de transformar nossos concidadãos de meros zumbis teleguiados e dependentes de celulares e outras parafernálias modernas em pessoas capazes de pensar por si, de investigar o mundo que os cerca, de criticar as falsas verdades impostas, de denunciar os desmandos da política, de se manifestar e transformar a realidade!