24 de janeiro de 2010

A Missa e o Apocalipse




Nossa pretensão nesse breve artigo é apresentar a Missa como chave litúrgica de explicação do livro do Apocalipse, e o Apocalipse como narrativa simbólica do mistério da salvação de Jesus Cristo na história. 
Em primeiro lugar, devemos esclarecer que a missa é uma forma de culto que surgiu há aproximadamente dois mil anos, também é denominada celebração eucarística (em grego, ação de graças), suas origens remontam a ultima páscoa celebrada por Jesus com seus apóstolos, na qual fez referência a sua morte e instituiu a ceia ou páscoa cristã como memorial eterno de seu sacrifício, a partir de sua ressurreição no primeiro dia da semana e de sua repetição do gesto de partir o pão (ou fração do pão) os apóstolos passaram a celebrar tal memória em forma de culto que passou a ser denominado como Ágape (em grego, Amor). Já no século II, Justino, mártir de Roma, faz referência a esta celebração no chamado ‘dia do sol’ (dies solis), quando os cristãos se encontravam e juntos com o presidente da celebração ouviam as memórias dos apóstolos (evangelhos, cartas) e após uma exortação (homilia ou conversa) e ação de graças (eukaristia) partilhavam do mesmo pão. Neste relato temos toda a estrutura da missa, ou seja, a liturgia da palavra, a homilia, o ofertório, a oração eucarística, a comunhão e, ao fim da celebração o presidente exclamava “ite missa est” no sentido de envio para a missão.
Em relação ao Apocalipse, devemos dizer que, o termo ‘apocalipsis’ em grego significa revelação, e não catástrofe como se pensa, nesse sentido o que está escrito no livro de João (o presbítero), diz respeito uma epifania divina, na qual se revelam uma serie de elementos simbólicos relacionados a toda historia da salvação (desde o êxodo até a ressurreição de Cristo, passando pela perseguição aos cristãos do século I). Primeiramente, João tem sua visão no exílio da ilha de Patmos, na perseguição do imperador Domiciano (ano 95), tal visão acontece no ‘dia do senhor’ (Apocalipse 1, 10) nome dado ao domingo (do latim dominus, senhor), dia da ressurreição, no qual acontece a celebração eucarística (Atos 20,7), isto é, o dia em que Jesus se revela ao partir o pão (Emaús). Em toda a narrativa da visão de João encontramos a relação com a estrutura e os elementos de uma celebração litúrgica dominical, ou seja, o altar (Apo cap.8,3-4), o momento penitencial (caps 2 e 3), leitura da escritura (cap. 2-3; 5; 8,2-11), o glória (cap.15,3-4), a hóstia eucarística (cap.2,17), o ‘Cordeiro de Deus’  (cap.5,6), o ‘corações ao alto!’(cap. 11,12) o ‘Santo, Santo, Santo’ (cap. 4,8), o Banquete das Núpcias do Cordeiro (cap. 19,9-17). Estes elementos litúrgicos são símbolos da presença (parousia) de Cristo que caminha conosco na estrada de Emaús, nos explicando a Palavra e se revelando na partilha do pão eucarístico (Lucas 24,13-35).
Em suma, a revelação (apocalipsis) de Jesus Cristo se dá em um domingo (kyriake hemera), numa celebração litúrgica (eukaristia), onde o cordeiro de Deus se faz pão, para alimentar aqueles que testemunham (martireo) com sua própria vida o projeto de Deus e seu Reino, diante dos impérios opressores a serviço do mal e da morte. A Missa e o Apocalipse explicam-se, pois, mutuamente.

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