28 de novembro de 2009

Vampiros e Lobisomens juvenis


Vivemos um verdadeiro frisson juvenil em relação ao fenômeno literário, e agora cinematográfico, em torno de obras que falam sobre histórias de vampiros e lobisomens.  Estas figuras mitológicas são apresentadas como paradigmas de conduta juvenil, ora como sedutores e nobres, os vampiros, ora como rudes e servis, os lobisomens. Mas afinal, quem é o vampiro e quem é a vitima nessa onda produzida pela indústria cultural? Quem se transforma em fera irracional sob o signo da lua cheia?
As estórias de vampiros e lobisomens são muito antigas e de certo modo estão presentes em várias culturas, porém será em meados do século XIX que elas se consolidarão na forma de uma literatura especifica de horror, em primeiro lugar com o romance de Bram Stoker Drácula, que trata da figura do conde romeno Vladimir Draculea, conhecido como Vlad, o empalador. No século XX se multiplicarão através do cinema as versões da história de Drácula, desde Nosferatu até os filmes estrelados pelo ator húngaro Bela Lugosi, e, por fim, o famoso filme Drácula de Bram Stoker. Posteriormente surgiram romances como Entrevista com o Vampiro e, mais recentemente, a série Crepúsculo.
Atualmente as narrativas, séries e filmes em torno destas figuras mitológicas se multiplicam assustadoramente e arrastam multidões de jovens fanatizados pelos personagens que sofrem suas mesmas angustias e problemas amorosos e existenciais. Muitos encontram nestas historias um reflexo de suas vidas, que muitas vezes se reduz a uma existência sem sentido, cheia de momentos de conflito e angustia. Estes jovens ora são tratados como mortos-vivos (vampiros), ora como animais (lobisomens) pela própria família e pela sociedade que lhes nega a vida, a oportunidade, o sonho, e os direciona para um vaguear sem rumo num limbo de indecisão. Milhões de jovens têm vivido suas vidas numa constante incerteza, onde é preferível esconder-se na figura dos seres que habitam o mundo da escuridão, os tais vampiros e lobisomens, pois a estes foi negada uma vida normal, e sua sina é vagar em busca de sangue alheio para alimentar sua fraqueza.
 Que dizer dos jovens que se tornaram escravos das drogas, vivendo no limiar entre vida e morte? Tornaram-se verdadeiros zumbis sem perspectiva. O mundo em que vivem é um submundo comparado a Transilvânia imaginaria dos filmes de horror, onde a morte e vida são a mesma coisa. Não é a toa que livros sobre as angustias e problemas vividos por estes jovens vampiros e lobisomens atraem tanto a atenção de nossos jovens. Não seriam estes também como vampiros, que buscam ‘sangue’ para manter sua aparente ‘vida’? Não teriam nossos jovens se tornado lobisomens, ou seja, seres bestializados que rondam pelas noites de lua cheia? O que fazer, se o que resta aos nossos jovens é uma subvida num mundo cada vez mais aterrorizado pela droga, pela falta de oportunidades, sem educação nem perspectivas?
Por essa razão não devemos nos assustar com tanta histeria e fanatismo dos jovens em torno de figuras tão grotescas como vampiros e lobisomens, na verdade eles buscam uma imagem de si mesmos nas paginas dos livros e telas de cinema, que expressem suas angustias, as quais não têm interessado a ninguém, nem pais, nem mães, nem sociedade, nem poderes públicos, a não ser aqueles que são ávidos por lucro fácil, através da literatura e do cinema massificados.
 In: O Povo, Jornal do Leitor, 28/11/09

2 comentários:

  1. Seu Francisco,

    Concordo..!
    É segredo mas TE CONTO:
    fui assistir "Lua Nova" Viu? ;(

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  2. reconhecimento sim, como você diz no texto, professor...hordas de enjeitados - estremecimento, vibração...e esse talvez o problema: em que estão se reconhecendo? As meninas, pelo menos, no mito da mulherzinha-do-cara, na mulher-feminina, como bem prescreve o sexismo. Num tempo de produção vertiginosa, de indústria da cultura, de um mercado à espreita com dentes afiados na conta certa para fazer de tudo uma refeição rápida: o crepúsculo, nesse caso, é o da boa literatura.

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