19 de julho de 2010

A Igreja e a Pedofilia

A pedofilia tem sido um dos problemas que mais tem ocupado o espaço da grande mídia nos últimos tempos, um dos agravantes é que a Igreja Católica, uma das instituições com maior credibilidade e das que mais defende os direitos humanos tenha sido o alvo de grande parte das denuncias, envolvendo padres que tem usado de suas prerrogativas religiosas para o exercício desta forma de violência sexual. Qual a posição da Igreja diante da pedofilia? Como devem ser punidos os padres pedófilos?
Sobre a questão da violência sexual, nos diz o Catecismo: “A violação designa a entrada na intimidade sexual duma pessoa à força, com violência. É um atentado contra a justiça e a caridade. A violação ofende profundamente o direito de cada um ao respeito, à liberdade e à integridade física e moral. Causa um prejuízo grave, que pode marcar a vítima para toda a vida. É sempre um acto intrinsecamente mau. É mais grave ainda, se cometido por parentes próximos (incesto) ou por educadores contra crianças a eles confiadas” (Catecismo da Igreja Católica, parág.2356.)
Durante muitos séculos a Igreja teve que conviver com os dilemas de uma instituição que é a salvaguarda dos valores da família e da moralidade, e que ao mesmo tempo sofreu na pele a conseqüência das grandes mazelas da condição humana, corrupção, imoralidade, violência, desrespeito a dignidade humana. Não é de hoje que surgem casos de padres homossexuais e pedófilos, que servem como objeto de critica à Igreja, enquanto instituição. A homossexualidade tem sido o mote de criticas da parte de algumas igrejas protestantes que defendem o fim do celibato religioso, que segundo elas seria uma forma de conduta anti-natural e não fundamentada nas escrituras, ainda segundo estes grupos o celibato seria uma das razões para a existência da pedofilia na igreja, uma vez que os padres que não casam se tornariam propensos a este problema de identidade sexual. O fato é que a Igreja reconhece o grave problema que a pedofilia tem trazido à família, a célula mãe da sociedade e o primeiro espaço de evangelização, lugar sagrado, mas infelizmente a centralidade do poder papal, a defesa de interesses pessoais e as intrigas da cúria vaticana se tornaram uma muralha que impede qualquer debate sério destas questões, um verdadeiro muro da vergonha. Como a Igreja Católica, a grande defensora dos direitos humanos é capaz de permitir que no interior de suas fileiras aconteçam os maiores desagravos aos direitos da pessoa humana? O que aconteceu com os apelos morais e éticos que a Igreja tanto apregoa? Estas questões demonstram a fragilidade da Igreja, mas ao mesmo tempo sua arrogância e pretensão descabida de levantar a bandeira da defesa dos direitos humanos, quando não resolveu seus problemas internos, sua tarefa de casa, no que toca a estes mesmos direitos.
A Igreja deve, pois resolver em primeiro lugar seus pecados internos e sociais. A Igreja, enquanto instituição divina é infalível, mas ao mesmo tempo é composta por seres humanos, tem fragilidades e é passível de pecados. No que diz respeito ao pecado o próprio Catecismo é muito claro ao afirmar: “O pecado é um ato pessoal. Mas, além disso, nós temos responsabilidades nos pecados cometidos por outros, quando neles cooperamos: tomando parte neles, direta e voluntariamente; ordenando-os. Aconselhando-os, aplaudindo-os ou aprovando-os; não os denunciando ou não os impedindo, quando a isso obrigados; protegendo os que praticam  mal” (CIC, 1868). Numa posição extremamente complicada a Igreja fica diante de um dilema: agir de forma rigorosa e receber críticas como medieval, conservadora, totalitária e autoritária, ou tenta encobrir os escândalos e torna-se alvo de críticas mais ferozes ainda, como cúmplice e conivente.
O Papa Bento XVI já afirmou e reafirmou varias vezes a culpa e a responsabilidade da Igreja diante dos casos de abuso sexual, mas também já ratificou a posição clara da moral cristã, a de não só prevenir e punir tais abusos, mas curar e reconciliar, ou seja, o perdão sempre será um principio cristão irrecusável que a Igreja deve levar como bandeira a todos os povos, mesmo que bradem as vozes de vingança que se transvestem de justiça. Lembremos ainda que a pedofilia é um transtorno de personalidade e muitos pedófilos foram vitimas de abusos na infância, devem ser tratados não apenas punidos. Que estes pecados sociais cometidos pela Igreja, que tantos males causam aos seus membros, possam ser punidos para que a Igreja recupere sua credibilidade moral diante da sociedade, mas que ao mesmo tempo vitimas e algozes dessas violências encontrem em Jesus sua cura e conforto e na Igreja reconciliação e solidariedade.

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