30 de julho de 2010

O Anjo calou...


  
Certa noite, estava eu apreensivo e durante um sono cataléptico tive um sonho que não me sai da cabeça. Seguia por uma estrada sem rumo em meio a uma floresta negra e densa, um frio de gelar a alma, ouvindo uivos ao longe e sentindo o manto negro da noite cobrir-me completamente. Eis que surgiu um ser negro como uma noite sem estrelas, suas asas brilhavam como se tivessem sido untadas com óleo, era como um Anjo das trevas. Esse Anjo me olhava com um olhar vazio, sem fundo, como um buraco negro que suga toda luz e gravidade, mas que me prendia de forma a não desviar a vista, uma atração que fugia ao controle, um misto de medo e desejo. Sentindo-me fragilizado por tal visão, de repente o tal Anjo se põe a cantar, nunca imaginaria que tivesse um canto tão belo, como o canto das sereias, cada vez mais me convidando a aproximação, muito embora o medo me fizesse recuar, sentia que a melodia que ele cantava soava como sedução aos ouvidos, porém me apavorava a possibilidade de entregar-me a perdição por trás daquele canto...então de repente, como que sem explicação, para a angustia dos meus ouvidos, o Anjo Calou...

Um comentário:

  1. "É que as sereias só calam no fundo das águas, lá onde a pupila dilatada já não compra a luz o silêncio do verbo que cala fascina e nem mesmo Ulisses saberia nos dizer o que dizem os verbos calados."

    Disse-me Samuel ao ler o seu texto, professor. Bonito, implícito, de-limiar.

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