9 de abril de 2010

A ascensão do Cordel


O Cordel nordestino tornou-se uma das formas de comunicação popular (‘folkmidia’, como diria o pesquisador Joseph Luyten) mais importantes, ainda hoje ele é amplamente lido por milhares de nordestinos que o consideram uma forma de literatura divertida, simples (mas não simplória) e interessante. Ao contrário do que muitos pensam, o Cordel não morreu, mas continua vivo, e cada vez mais forte, conseguindo assimilar as inovações tecnológicas, contrariando o conservadorismo dos tradicionalistas que desejavam vê-lo como uma peça de museu, exótica e ultrapassada.
A vitalidade do Cordel é incrível, dado que se presta a várias possibilidades de influência, pois vemos sua inspiração na música em cantores como: Zé Ramalho, Ednardo, Raul Seixas, Alceu Valença e Fagner. Nas artes plásticas, através da xilogravura e dos desenhos que embelezam as capas dos Cordéis. No teatro com João Augusto, Orlando Sena e Silvio Rabelo, no Cinema, como no filme de Tânia Quaresma “Nordeste, Cordel e repente”, na peça e depois filme “Auto da Compadecida” de Ariano Suassuna, também no filme “O Pagador de Promessas”, da peça de Dias Gomes. Na literatura, em especial na obra de Jorge Amado, “Tereza Batista cansada de guerra”.
Há abordagens diversas em relação ao Cordel, entre elas podemos citar a de Solange Chalita, que fez uma leitura dos Cordéis a partir da psicologia analítica de C.G.Jung, em sua tese de mestrado de 2002 com o titulo “Uma leitura junguiana do Cordel nordestino: dois exemplos” publicada pela Editora da Universidade de Alagoas e divulgada no artigo do Jornal Gazeta de Alagoas com o titulo “Jung e o mito do herói nos folhetos(1). Podemos citar também a abordagem lingüística numa dissertação intitulada “Literatura de Cordel no cotidiano do novo Capitalismo” de Viviane de Melo Rezende, sob orientação da Profa.Dra. Denise Elena Garcia da Silva, defendida na Universidade de Brasília em 2005 (2).
Na Saúde o Cordel está sendo usado como uma forma de educação popular para a promoção da saúde, este trabalho tem sido desenvolvido pelo médico José Sávio Teixeira Pinheiro do Ceará, que apresentou o trabalho “A história da saúde no Brasil em versos de Cordel” no I Encontro de Experiências Exitosas da estratégia da Saúde da Família do Nordeste, em João Pessoa (3). A metodologia desenvolve-se desde 2005 em Carius (CE), onde é usado o Cordel nas ações de Educação em Saúde. Na perspectiva do Direito podemos citar o trabalho de Adelino Brandão Crime e Castigo no Cordel (4), um trabalho pioneiro em que o autor desenvolve uma pesquisa sobre a concepção de pecado, crime e castigo, a partir dos Cordéis que tratam destes temas.
Atualmente podemos encontrar diversas monografias e teses de mestrado e doutorado envolvendo direta ou indiretamente o Cordel, além disso, contrariando os conservadores vemos hoje o Cordel invadir a internet através de sites e das famosas pelejas virtuais, dentre as quais destacamos “a grande peleja virtual de Antonio Klevisson Viana e Rouxinol do Rinaré” e, finalmente, vemos o Cordel surgir na educação como instrumento didático interessante e lúdico que cativa a todos que o lêem.
A partir de tudo que foi dito acima podemos concluir que longe de ser uma forma de expressão popular ultrapassada ou superada o Cordel está a todo vapor e pode oferecer muitos frutos, como já tem oferecido, não apenas às diversas áreas de pesquisa, mas a própria educação, através do incentivo à leitura e a possibilidade de refletirmos sobre nossa cultura a partir de suas próprias fontes.



[1] Gazeta de Alagoas, Caderno B, 02 de Abril de 2006.
[2] Rezende, Viviane de Melo. Literatura de Cordel no cotidiano do novo Capitalismo. Brasília, 2005.
[3] Revista Brasileira Saúde da Família, Nº. 11, Jul/Set, 2006, p.17.
[4] Brandão, Adelino. Crime e Castigo no Cordel. Rio de Janeiro, Presença. 1991.

2 comentários:

  1. PARA FRANCISCO JOSÉ

    Duvido, Chico José
    (Eu que ando meio na fossa),
    De tudo. Porém na nossa
    Amizade ponho fé!

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  2. Uma vez em ''Pe '' fiz parte de um recital de Cordel...
    Nunca mais senti emoção igual ...
    Saudades de alguns registros assim memoráveis ...

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