O
que estamos vendo nesses últimos meses é digno de nota, no que diz respeito à
questão do futebol brasileiro. Já não bastasse os cartolas, os conchavos e a
multimilionária industria do futebol nacional e internacional, bem como a copa
que se aproxima, agora um novo tópico relacionado a isso vem a tona, a
violência das torcidas ‘organizadas’.
Dizer
que os torcedores são vândalos ou bandidos travestidos de torcedores, não
resolve o problema e, na verdade, põe pra debaixo do tapete a verdadeira
questão. Quem são esses novos gladiadores que não estão mais no interior do
coliseu (arena de luta), mas do lado de fora? Qual a razão de sua revolta? O
que escondem tanta ânsia de violência?
As
chamadas torcidas organizadas (grosso modo) são agremiações que tem como meta a
organização dos torcedores e a articulação interna de seus interesses, mas o
que estamos vendo é a transformação desta instituição em uma verdadeira caixa
de ressonância de outros problemas sociais que só então passam a ter
relevância, uma vez que ferem os interesses da grande indústria do futebol e da
copa. O que estamos presenciando todo dia não é apenas a invasão de vândalos no
interior das torcidas organizadas, como se apregoa nas mídias, mas o reflexo da
fragilidade de nossa sociedade e do Estado, de dar conta de conflitos internos
que surgem em diversos âmbitos, seja na segurança publica, no transporte, e inclusive
no esporte.
As
formas de controle usadas pelo Estado se mostram ineficientes para diminuir o
impacto de sua fúria. A insatisfação de toda uma sociedade se manifesta não
apenas em passeatas e greves, mesmo nesse encontro entre torcidas rivais vemos
a violência na sua forma mais confusa, pois como entender que aqueles que vão a
uma partida de futebol precisem se digladiar ao fim do jogo? Antes de tudo
deve-se ter em mente que o esporte é nada mais que uma virtualização da
violência, a velha historia do ‘jogo limpo’ (‘fair play’) é uma maneira
indireta de dizer que o esporte promove violência, por isso se exige o tal
‘jogo limpo’, os times ou seleções encarnam todas as expectativas de uma
guerra, aqui as nações são representadas pela seleção que vai ao campo de
guerra derrotar o ‘inimigo’. As torcidas se tornaram o espaço onde essa ‘guerra
virtual’ se realiza efetivamente, embora o esporte precise seguir as regras.
Todo o contingente de frustração social, ódio pelo diferente e pelo outro,
encontra agora uma nova válvula de escape, as brigas entre torcidas rivais, não
é apenas o que aparece imediatamente aos olhos, mas todo o conjunto de fatores
não evidentes, mesmo que inconscientes.
Esperar
que uma copa do mundo ou uma partida de futebol seja o espaço de ‘paz e amor’,
de pura inocência esportiva é não entender bem a regra do jogo. O que acontece
nos estádios e fora dele é reflexo de toda nossa sociedade, um dado que devia
ser levado em conta antes de apenas reprimido. Nosso vandalismo de cada dia é
escondido da grande massa de expectadores, mas não é menos letal, porque sutil.
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