A Teologia da
Prosperidade é o nome dado a um movimento neopentecostal que tem como meta
principal colocar a prosperidade como meta do cristão e resultado das bençãos
dadas por Deus como sinal de uma aliança com ele. Os grandes exemplos de
igrejas seguidoras desta forma de teologia são a Igreja Universal do Reino de
Deus, a Igreja Internacional da Graça de Deus, a Igreja Mundial do Poder de
Deus, Renascer em Cristo, entre outras.
Esta linha de
pensamento teológico é aparentemente recente, teria surgido com o
neopentecostalismo (fins do século XX), mas finca suas raízes nas origens do
protestantismo, em especial com Lutero e Calvino (Séc.XVI). Com Lutero há uma
ruptura não apenas em relação a doutrina e liturgia católica, mas também em
relação a concepção de trabalho, que na Idade Media era visto como sacrificio e
castigo (a origem da palavra trabalho em latim é tripalium, nome de um
intrumento de tortura), passando agora a ser interpretado como 'vocação' (Beruf,
em alemão tanto significa trabalho como vocação), ou seja, em seu trabalho, em
sua profissão, o homem é chamado por Deus para contribuir com seu Reino, uma
especie de releitura da parábola dos talentos. João Calvino por sua vez,
destaca em sua obra Institutas, a questão da predestinação, ou seja,
Deus teria escolhido de antemão aqueles que serão salvos e os que se danarão no
fogo eterno, para os burgueses calvinistas, a prosperidade financeira é o sinal
da eleição divina que cumula seus seguidores de bens materiais. Max Weber
(sociólogo alemão, séc.XIX-XX), em sua obra A Ética protestante e o
espirito do capitalismo, desvenda de forma clara como a concepção
protestante de trabalho unida ao ascetismo e a parcimonia dos fieis burgueses
levou necessariamente ao desenvolvimento do sistema capitalista na Europa e na
América, esta ultima como grande reduto dos puritanos ingleses que tem na
economia e no empreededorismo uma marca, exemplo disso foi o inventor americano
Benjamin Franklin que criou a frase "tempo é dinheiro".
As igrejas
que hoje seguem esta linha de pensamento funcionam como agências que levam os
fieis ao empreedimento e a busca de riqueza, como forma de demonstrar que são
agraciados por Deus, muitas vezes como um desafio, onde Deus é representado
como 'o dono de todo ouro e prata' e que pela sua propria palavra sagrada seria
o responsável em atender as demandas financeiras de seus fieis. A fé e o
sacrificio pecuniario tornam-se a moeda corrente que obriga Deus a distribuir
bens como recompensa. As grandes campanhas realizadas por estas igrejas tem
como foco principal a garantia de resultado, de sucesso, de prosperidade, onde
os bens materias tem a prioridade. Muitas vezes argumenta-se que o fiel como
filho de Deus é indigno de viver na miséria, mas ao invés de apresentar as
reais causas da miséria, isto é, a acumulação de riqueza e a má distribuição de
renda, coloca como causa desta miséria algo sobrenatural, como possessão
demoníaca, maldição familiar e até mesmo, a falta de fé (?). Esta prática é
perniciosa por transformar a riqueza no sumo bem do cristão, sendo contrária
mesmo ao Evangelho que diz "não levem bolsa nem alforge" (Lc 9,3), ou
"o amor do dinheiro é a causa dos males" (1 Tim 6,10), ou ainda
"não se pode servir a dois senhores, a Deus ou ao dinheiro (Mamom)", ou
finalmente o conselho de Jesus ao jovem rico "se queres ser perfeito, vai
vende teus bens e dá aos pobres, depois segue-me" (Lc 18,18-23). Tal
teologia da prosperidade não admite que o cristão possa sofrer ou ser pobre,
ser pobre é interpretado como uma maldição, ou seja, o contrário do que diz o
Cristo que "o reino de Deus pertence aos pobres", o proprio Cristo
foi ironicamente vendido por trinta moedas de prata (Mt 26,15).
É óbvio que
esta linha de pensamento se coaduna perfeitamente não só para a sociedade
tardo-capitalista em que vivemos, mas também se enquadra ao tipo de fiel que
esta sociedade criou, o fiel egocêntrico, hedonista, individualista,
imediatista, que vê a igreja como clube social ou shopping da fé, onde se paga
para assistir um show ou espetáculo de curas e milagres. Este fiel não tem
ilusões em relação a transformar a sociedade, na verdade sua ideologia é a de
que deve-se 'converter' outros ao mercado da fé, pois só assim os males da
miséria e da pobreza acabarão. Para ele, todos tem o direito de ser felizes e
ricos, mas apenas os verdadeiros fieis é que se enquadram nesta categoria.
O dízimo, ao
invés de ser uma forma de suprir as necessidades da comunidade, isto é, uma
forma de redistribuição social da riqueza, torna-se um instrumento de lucro
torpe (1 Tim 6,5). No mercado da fé há espaço para diversas igrejas,
principalmente para aquelas que sabem usar o marketing e a mídia, transformando
pessoas infelizes e depressivas em verdadeiros consumidores para a glória do
capital!
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