27 de janeiro de 2013

As Igrejas da Prosperidade

A Teologia da Prosperidade é o nome dado a um movimento neopentecostal que tem como meta principal colocar a prosperidade como meta do cristão e resultado das bençãos dadas por Deus como sinal de uma aliança com ele. Os grandes exemplos de igrejas seguidoras desta forma de teologia são a Igreja Universal do Reino de Deus, a Igreja Internacional da Graça de Deus, a Igreja Mundial do Poder de Deus, Renascer em Cristo, entre outras.
Esta linha de pensamento teológico é aparentemente recente, teria surgido com o neopentecostalismo (fins do século XX), mas finca suas raízes nas origens do protestantismo, em especial com Lutero e Calvino (Séc.XVI). Com Lutero há uma ruptura não apenas em relação a doutrina e liturgia católica, mas também em relação a concepção de trabalho, que na Idade Media era visto como sacrificio e castigo (a origem da palavra trabalho em latim é tripalium, nome de um intrumento de tortura), passando agora a ser interpretado como 'vocação' (Beruf, em alemão tanto significa trabalho como vocação), ou seja, em seu trabalho, em sua profissão, o homem é chamado por Deus para contribuir com seu Reino, uma especie de releitura da parábola dos talentos. João Calvino por sua vez, destaca em sua obra Institutas, a questão da predestinação, ou seja, Deus teria escolhido de antemão aqueles que serão salvos e os que se danarão no fogo eterno, para os burgueses calvinistas, a prosperidade financeira é o sinal da eleição divina que cumula seus seguidores de bens materiais. Max Weber (sociólogo alemão, séc.XIX-XX), em sua obra A Ética protestante e o espirito do capitalismo, desvenda de forma clara como a concepção protestante de trabalho unida ao ascetismo e a parcimonia dos fieis burgueses levou necessariamente ao desenvolvimento do sistema capitalista na Europa e na América, esta ultima como grande reduto dos puritanos ingleses que tem na economia e no empreededorismo uma marca, exemplo disso foi o inventor americano Benjamin Franklin que criou a frase "tempo é dinheiro".
As igrejas que hoje seguem esta linha de pensamento funcionam como agências que levam os fieis ao empreedimento e a busca de riqueza, como forma de demonstrar que são agraciados por Deus, muitas vezes como um desafio, onde Deus é representado como 'o dono de todo ouro e prata' e que pela sua propria palavra sagrada seria o responsável em atender as demandas financeiras de seus fieis. A fé e o sacrificio pecuniario tornam-se a moeda corrente que obriga Deus a distribuir bens como recompensa. As grandes campanhas realizadas por estas igrejas tem como foco principal a garantia de resultado, de sucesso, de prosperidade, onde os bens materias tem a prioridade. Muitas vezes argumenta-se que o fiel como filho de Deus é indigno de viver na miséria, mas ao invés de apresentar as reais causas da miséria, isto é, a acumulação de riqueza e a má distribuição de renda, coloca como causa desta miséria algo sobrenatural, como possessão demoníaca, maldição familiar e até mesmo, a falta de fé (?). Esta prática é perniciosa por transformar a riqueza no sumo bem do cristão, sendo contrária mesmo ao Evangelho que diz "não levem bolsa nem alforge" (Lc 9,3), ou "o amor do dinheiro é a causa dos males" (1 Tim 6,10), ou ainda "não se pode servir a dois senhores, a Deus ou ao dinheiro (Mamom)", ou finalmente o conselho de Jesus ao jovem rico "se queres ser perfeito, vai vende teus bens e dá aos pobres, depois segue-me" (Lc 18,18-23). Tal teologia da prosperidade não admite que o cristão possa sofrer ou ser pobre, ser pobre é interpretado como uma maldição, ou seja, o contrário do que diz o Cristo que "o reino de Deus pertence aos pobres", o proprio Cristo foi ironicamente vendido por trinta moedas de prata (Mt 26,15).
É óbvio que esta linha de pensamento se coaduna perfeitamente não só para a sociedade tardo-capitalista em que vivemos, mas também se enquadra ao tipo de fiel que esta sociedade criou, o fiel egocêntrico, hedonista, individualista, imediatista, que vê a igreja como clube social ou shopping da fé, onde se paga para assistir um show ou espetáculo de curas e milagres. Este fiel não tem ilusões em relação a transformar a sociedade, na verdade sua ideologia é a de que deve-se 'converter' outros ao mercado da fé, pois só assim os males da miséria e da pobreza acabarão. Para ele, todos tem o direito de ser felizes e ricos, mas apenas os verdadeiros fieis é que se enquadram nesta categoria.
O dízimo, ao invés de ser uma forma de suprir as necessidades da comunidade, isto é, uma forma de redistribuição social da riqueza, torna-se um instrumento de lucro torpe (1 Tim 6,5). No mercado da fé há espaço para diversas igrejas, principalmente para aquelas que sabem usar o marketing e a mídia, transformando pessoas infelizes e depressivas em verdadeiros consumidores para a glória do capital!

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