18 de novembro de 2023

A FUGA PARA O EGITO


Uma familia palestina precisa se refugiar às pressas no Egito, pois o rei dos judeus ordena a perseguição e o assassinato das crianças (Mateus 2, 13-23). 
Milhares de crianças são mortas cruelmente por ordem de "Israel", cujos soldados massacram sem piedade as familias que não abandonaram seus lares, porque para o rei judeu aquele povo miserável é uma ameaça aos interesses dos poderosos do mundo...

#FreePalestine 🇸🇩
#FugaParaEgito

21 de agosto de 2019

Raul Seixas, 30 anos de saudades (21 de Agosto de 1989-2019)


30 anos da viagem astral de Raul Santos Seixas (21 de Agosto de 1989). O Raulzito foi um fenômeno da cultura pop brasileira, um misto de cantor e compositor popular, mas acima de tudo um pensador e crítico de nossa cultura, capaz de criar uma reviravolta no padrão estabelecido pela MPB até então.
Raul Seixas (1945-1989) foi um espirito inquieto, estudioso de Filosofia e Esoterismo, amante do Rock n’ Roll americano e das nossas raízes culturais nordestinas, compositor inventivo e irreverente, cujo sarcasmo e bom humor tornaram-no uma figura ímpar na cena rockeira do final do século XX. Antes de se tornar um artista de projeção nacional, Raul havia trabalhado como produtor musical da CBS, sendo responsável por diversos sucessos no período da jovem guarda (cerca de 22 canções). As décadas de 70 e 80 foram o auge de sua carreira, alcançando um lugar único no rol da fama e das paradas musicais, emplacando sucessos como “Let me sing, Let me sing” (1972), “Metamorfose Ambulante” e “Outo de Tolo”(1973), “Gitã” (1974) e “Maluco Beleza”(1977). Vale lembrar que em seus 26 anos de carreira (1963-1989), ele compôs 17 álbuns que contemplam diversos estilos musicais que vão desde a música Brega, Bolero, Baião, Rock clássico, Blues e até Tango!
30 anos depois, fica o questionamento: Qual o legado do Raulzito para a cultura popular brasileira? Podemos dizer que, para além da produção musical, dos álbuns premiados e das releituras por parte de diversos artistas dos mais variados gêneros, o que mais devemos destacar nestes últimos anos após sua ausência física é a produção cultural que revisita sua obra e encontra nesta uma fonte inesgotável de inspiração para reflexões em diversos campos do saber. Hoje, o Raulzito é objeto de pesquisas em História, na Sociologia, na Literatura e na Filosofia, que resultaram em dezenas de dissertações de Mestrado e teses de Doutorado, além de biografias, publicações em Prosa e Poesia, em Literatura de Cordel, na produção audiovisual (documentários) e até nos Quadrinhos.
Raul Seixas é um patrimônio nacional de profunda relevância cultural que sempre se renova, trazendo novas contribuições para pensar nossa identidade que tem a marca da diversidade e da pluralidade. Viva Rauzlito!    

1 de abril de 2018

Folclore em torno do apóstolo São Tomé



Uma das figuras mais misteriosas e intrigantes do Novo Testamento é Tomé, o Dídimo (gêmeo), seu nome percorreu o mundo, partindo da Palestina, atravessando o Oriente e chegando até a América. Falaremos neste ensaio sobre as várias versões e lendas a respeito de Tomé.
Segundo o texto bíblico: “Um dos doze, Tomé, o dídimo, não estava com eles quando veio Jesus. Os outros discípulos, então lhe disseram: Vimos o Senhor! Mas ele lhes disse: ‘Se não vir em suas mãos o lugar dos cravos e se não puser o meu dedo no lugar dos cravos e minha mão no seu lado, não crerei.’ Oito dias depois achavam-se os discípulos, de novo, dentro de casa, e também Tomé com eles. Veio Jesus,estando as portas fechadas,pôs-se no meio deles e disse: ‘A paz esteja convosco’. Disse depois a Tomé: ‘Põe o teu dedo aqui e vê minhas mãos! Estende tua mão e põe-na no meu lado e não sejas incrédulo,mas crê!’ Respondeu-lhe Tomé: ‘Meu Senhor e meu Deus’. Jesus lhe disse: ‘Porque viste, creste,felizes os que não viram e creram” (João 20, 24-29). O evangelista quis representar o incrédulo ou o que só crê no que vê e toca, alguém que não tem convicção espiritual, mas, se, por um lado é um possível descrente, por outro lado é uma pessoa que não se contenta com boatos e comentários, porém Jesus lhe ensina a crer em algo que ultrapassa os sentidos,como dirá Paulo: “A fé é uma posse antecipada do que se espera um meio de demonstrar as realidades que não se vêem. Foi por ela que os antigos deram seu testemunho” (Hebreus 11,1-2).
Segundo fontes encontradas no Egito em 1946, sob nome Nag Hammadi, há um manuscrito, provavelmente dos séculos II e III de nossa era, denominado Evangelho de Tomé, um escrito apócrifo gnóstico, onde se narra palavras de Jesus a Tomé, o gêmeo: “Eis as palavras secretas ditas por Jesus, o Vivente, escritas por Judas Tomé, o gêmeo” (O Evangelho de Tomé). A forma do Evangelho de Tomé tem como característica principal ditos de Jesus, que revelam uma tradição de coleções de ditos e/ou feitos do mestre colocados sem uma sequência orgânica, em seu conteúdo trata de temas caros aos gnósticos, onde Jesus representa o homem perfeito e seus ditos misteriosos encontram sua interpretação dentro da simbologia da escola gnóstica, muitos dos ditos são variações daqueles dos evangelhos canônicos. Eis alguns: “1. E ele disse: Aquele que encontrar a interpretação destas palavras não provará a morte”,“42. Jesus disse: Sede passantes”,“112. Jesus disse: Infeliz da carne que depende da alma; infeliz da alma que depende da carne” (O Evangelho de Tomé).
Mas isso não é tudo no que diz respeito a nossa curiosa figura, restam ainda as lendas e relatos sobre a passagem de Tomé pelo Oriente (Índia) e pela América (México e Brasil), pois segundo se sabe ele foi o ‘apóstolo das Índias’. Existem alguns relatos de viajantes como Marco Pólo e Francisco Xavier, que atravessaram a Europa rumo à China e Japão e descrevem vários costumes dos povos asiáticos, do primeiro podemos ler em sua narrativa das viagens chamado ‘Milione’ (O Livro das maravilhas) algo sobre Tomé: “O corpo de São Tomé, o apóstolo, encontra-se na província de Maabar (...) Os sarracenos desta região são muito devotos de São Tomé, porque acham que ele foi um grande profeta sarraceno, razão porque o chamam de ‘Varria’, isto é, Santo.(...) Este santo cura todos os leprosos cristãos. Eis como ele morreu, (...). São Tomé estava orando numa ermida, num bosque, cercado de pavões (...). Enquanto rezava, um caçador da casta dos ghavi, que andava caçando pavões atirou uma flecha para caçar uma daquelas aves, e uma outra nas costas de São Tomé, que ele não vira. Ferido desse modo o santo continuou orando docemente, até exalar o último suspiro e entregar sua alma a Deus. Antes de ter se retirado para a ermida desse bosque, ele já havia operado umas conversões de indianos ao cristianismo.” (Pólo, Marco. Il Milione).
Como vemos, Tomé gozava de grande estima mesmo entre os pagãos orientais e como no período das descobertas a América era confundida com o Oriente era lógico crer que se encontrariam indícios do que Marco Pólo narrou, o qual tinha muito prestígio entre os europeus, pois estes não conheciam muito ou mesmo nada do Oriente. A idéia de que Tomé estivera nas Índias logo se fortaleceu quando do contato entre europeus e indígenas, o que nos atestam os relatos dos Jesuítas. Há analogias de Tomé com o famoso deus Quetzalcoatl (a serpente emplumada) do México, que significa ‘gêmeo’ como o Tomé bíblico, e esse deus Tolteca tinha uma ‘cruz’ em seu chapéu de ponta (por ser o deus dos quatro pontos cardeais). Segundo Enrique Dussel, filósofo e historiador argentino, esta cruz e sua relação com o grande dilúvio e ‘tantos outros signos’, fez com que o Pe Diego Duran pensasse que o sacerdote e rei tolteca – e depois deus – era nada menos que o apóstolo Tomé, que da Palestina teria ido á Índia e dali teria vindo ao México.
Também no Brasil encontramos relatos sobre a lenda de Tomé (Sumé ou Zomé) entre nossos índios, descrita pelo célebre Câmara Cascudo, no ‘Dicionário do Folclore Brasileiro’: “Sumé personagem misteriosa, homem branco que, antes do descobrimento, apareceu entre os indígenas, ensinando-lhes o cultivo da terra e regras morais. Repelido, abandonou a região, caminhando sobre as águas do mar. “Dizem eles que São Tomé, a quem eles chamam Zomé passou por aqui, isto lhes ficou por dito por seus antepassados e que suas pisadas estão assinaladas junto de um rio; as que eu fui ver por mais certeza de verdade e vi com os próprios olhos, quatro pisadas mui grandes com seus dedos,as quais algumas cobre o rio,quando enche; dizem também que quando deixou estas pisadas,ia fugindo dos índios que o queriam frechar, e chegando ali se lhe abrira o rio e passara por meio dele à outra parte,sem se molhar e dali foi para a Índia. Assim mesmo contam que, quando o queriam frechar os índios, as frechas se tornavam para eles, e os matos lhe faziam caminho por onde passasse.” (Manuel da Nóbrega, Cartas do Brasil, 101, a carta é de 1549).
Continua Câmara Cascudo: “Também é tradição antiga entre eles que veio o bem-aventurado apóstolo São Tomé a esta Bahia, e lhes deu a planta de Mandioca e das bananas de São Tomé; e eles, em paga deste benefício e de lhes ensinar que adorassem e servissem a Deus e não ao demônio,que não tivessem senão uma mulher e não comessem carne humana,o quiseram matar e comer, seguindo com efeito até uma praia onde o santo se passou,de uma passada,a ilha de Maré, distância de meia légua, e daí não sabem por onde. Devia de ser indo para a índia,que quem tais passadas bem podia correr todas estas terras, e quem as havia de correr também convinha que desse tais passadas.” (Frei Vicente de Salvador, Historia do Brasil (1627), 103). Também o Pe Antonio Vieira nos dá algumas indicações sobre a lenda a respeito do apóstolo Tomé no Brasil em seus “Sermões”.
              Concluindo, podemos perceber como determinadas figuras míticas e lendárias como a de Tomé, o apóstolo, podem ter uma continuidade na cultura popular, atravessando o tempo e o espaço, servindo de arquétipo do homem santo, do grande civilizador e ainda do missionário além-fronteiras. 


Referências
Bíblia de Jerusalém
Marco Polo, O livro das Maravilhas.
Cascudo, Câmara. Dicionário do Folclore Brasileiro
Padre Antonio Vieira. Sermões
VVAA. O Evangelho de Tomé. in: Apócrifos da Bíblia.